Esporte pode aprimorar capacidade de relacionamento com amigos e família, dizem especialistas
- Imprensa
- 22 de jul.
- 4 min de leitura
Publicado no Globo, 22.07.25 Por Mariana Rosário
Redução em quadros de ansiedade e ganho de autoestima também são citados como importantes trunfos da atividade física

Em “Top Gun - Maverick”, lançado há três anos, o personagem título do filme vivido por Tom Cruise usa uma ferramenta pouco convencional para unir um grupo de pilotos que foi escalado para voar junto: organiza uma partida de futebol americano adaptada na praia. Ao receber um questionamento de incredulidade de seu superior sobre a estratégia, Maverick (Cruise) explica: “você me pediu para criar um time, aí está o time”, analisa o personagem.
Longe das telas da ficção, a estratégia do piloto de caça do cinema tem lastro no que dizem psicólogos, pediatras e médicos do esporte. A prática de atividade física pode sim ter impacto na saúde emocional e na capacidade de criar laços, viver em grupo, além de oferecer um trunfo que pode ser útil em toda a vida: saber lidar com regras.
Esses benefícios, vale dizer, são especialmente valiosos na adolescência e começo da juventude, fases em que o sentimento de inadequação, acompanhados da necessidade de pertencimento e da criação de laços com pessoas além da família costumam causar bastante ansiedade.
— Não há momento na vida em que a pessoa fique mais suscetível ao desenvolvimento de transtornos mentais do que na adolescência. A estimativa (da Organização Pan-Americana de Saúde) é que 16% da população de adolescentes sofra com algum impacto de transtornos mentais. — afirma AlaorCarlos de Oliveira Neto, coordenador do Serviço de Psiquiatria do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo. — Nesse sentido, o esporte funciona como uma ferramenta muito positiva para treinar as habilidades do adolescente. Não só habilidades sociais, mas também de interação, comunicação, de moral, de estruturas, de limites, de lidar com frustração de canalizar as emoções para um espaço onde elas possam ser extravasadas.
Um estudo realizado por pesquisadores canadenses e publicado no “Journal of Adolescent Health” ajuda a entender melhor esse cenário. O levantamento, que levou em conta 2.278 meninos e meninas com idades entre 9 e 14 anos, mostrou que a atividade esportiva trouxe uma maior percepção, ainda que moderada, desses praticantes em suas competências sociais. Claro, não se trata de uma bala de prata que pode resolver todos os problemas de relacionamento, mas, conforme sugerem os pesquisadores, efeito do esporte em aspectos como a capacidade de fazer amigos e de lidar com conflitos é percebido.
Exercícios para todos
No consultório da psicóloga e terapeuta de família e de casal Marina Vasconcellos, todos (independente da idade) passam pela mesma pergunta ainda nas primeiras consultas: você faz atividade física? A prática esportiva, explica a especialista, seja qual for a modalidade, é fundamental para desenvolver a saúde emocional. Ela, porém, dá algumas dicas que podem ser úteis quando a emoção está à flor da pele.
— O exercício aeróbico pode ser um grande aliado para quem está ansioso. Porque ajuda a descarregar as emoções. Assim ele poderá correr, por exemplo, o que ajuda a desestressar. As lutas também podem ser interessantes, pois nela canalizamos a agressividade de maneira saudável — avalia. — Na adolescência também é muito importante lidar com limites, porque a parte do cérebro que faz avaliações sobre moral, ética, do que é adequado fazer ou não ainda não está plenamente desenvolvida. O esporte, por sua vez, já impõe regras que refletem outros limites que teremos de lidar ao longo de toda a vida.
Lucienne Victoria, coordenadora da Pediatria da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, ainda diz que o funcionamento do esporte pode afastar um complicador da vida nos tempos atuais: as telas.
— Hoje percebemos os adolescentes com dificuldade de falar, pessoalmente, entre si. O esporte, nesse sentido, funciona como uma saída das telas e sair desse processo de tanto uso de tecnologia — diz a médica. — A prática recorrente do esporte também tem tudo a ver com o aumento da autoestima, sobretudo quando meninas e meninos conseguem observar sua evolução dentro da prática.
De olho nesses benefícios, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem uma orientação específica da quantidade de atividade física que já traz benefícios para crianças e adolescentes de 5 a 17 anos— que, na publicação, são considerados dentro de um mesmo grupo. De acordo com a diretriz, crianças e adolescentes “devem fazer pelo menos uma média de 60 minutos por dia de atividade física de moderada a vigorosa intensidade, ao longo da semana, a maior parte dessa atividade física deve ser aeróbica”. A orientação é que essa cota diária se repita ao menos três vezes na semana. O documento ainda reforça: qualquer atividade física é melhor do que nenhuma.
Moisés Cohen, Ortopedista presidente da Comissão Médica da Federação Paulista de Futebol (FPF) e diretor do Instituto Cohen Ortopedia, Saúde e Esporte, lembra ainda que os laços familiares podem de beneficiar da prática esportiva. E que o exemplo dos pais pode ajudar (e muito) no interesse da criança e do adolescente por manter-se ativo.
— Geralmente, a criança que desenvolve esse gosto pela atividade física tem pais que de alguma forma também fazem isso. Tem episódios que todos participam de corrida juntos, ou pedalam. E, depois disso, voltam para casa juntos. Isso se torna um grande estímulo — diz o médico. — Eu acho que é muito saudável e dá uma questão de união e de vínculo, e de pertencimento do esporte e da família.
留言