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Seu cérebro não desliga? Pode ser excesso de preocupação ou até transtorno

Publicado no portal UOL - VivaBem, 28.04.21

Por: Marcelo Testoni


Da Revolução Industrial nos séculos 18 e 19 para cá, o mundo nunca mais foi o mesmo. Estamos muito mais acelerados na forma como trabalhamos, nos relacionamos e vivemos. Se de um lado o avanço da tecnologia tem sua parcela de culpa, de outro preocupações e excesso de demandas são os principais fatores para não pausar a mente.


"Se a pessoa não muda o foco e costuma ir para a cama com a cabeça nas pendências do dia seguinte, esse 'ruminar' de pensamentos faz o cérebro receber uma descarga adrenérgica e se acelerar, ficando em alerta constante e pronto para reagir", alerta Fábio Porto, neurologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).


Pensar demais pode apontar também a presença de problemas psiquiátricos, como ansiedade, transtorno afetivo bipolar, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, depressão. Outras causas incluem lembranças traumáticas, alterações genéticas hereditárias, comprometimento do tálamo (estrutura cerebral importante na regulação da consciência e sono-vigília), consumo excessivo de substâncias estimulantes e uso de internet.


Há alguns psiquiatras que defendem ainda a teoria da síndrome do pensamento acelerado. Ela propõe que o excesso de informação —independentemente se há relação direta com problemas ou não — impregna o cérebro, resultando em pensamentos velozes e constantes que poderiam gerar irritabilidade, insônia, inquietação, dificuldade de concentração e vício por estímulos. Quem desempenha muitas atividades, sobretudo mentais e sob pressão estaria mais sujeito.


"De fato, os sintomas existem, mas essa síndrome, fruto de um trabalho único e difícil de comparar com a maioria das pesquisas, não é, atualmente, reconhecida internacionalmente pela comunidade científica", explica Luiz Scocca, psiquiatra pelo HC-FMUSP e membro da APA (Associação Americana de Psiquiatria). Ele acrescenta que a aceleração do pensamento individualmente não indica uma causa específica, exigindo ser acompanhada com a presença de outros sinais para definir patologias e distingui-las de preocupações e excesso de tarefas.


Problemas também são físicos

Não abstrair, além dos prejuízos citados e da própria aceleração do cérebro, pode, caso a velocidade de processamento das informações estiver muito elevada —o que é observado em quadros de transtornos de ansiedade generalizada e bipolaridade —, causar ainda uma sobrecarga das funções cognitivas. Nessa situação, ocorrem alterações na fala, que fica confusa, lapsos de memória, mudança de humor repentina e incapacidade de tomar decisões lógicas.


O estresse e a ansiedade intensificam a atividade nervosa, elevando os níveis de hormônios, como adrenalina e cortisol. Isso também altera a percepção de tempo e, caso ele pareça insuficiente para se fazer tudo o que deseja, o corpo começa a manifestar que o emocional e o psicológico estão esgotados. São indicativos psicossomáticos: tremores, fadiga excessiva, falta de ar, tensão muscular, dor de cabeça, queda de cabelo, gastrite e elevação dos batimentos cardíacos.


Em contrapartida, quando a velocidade está com grau de intensidade menor e a pessoa se sente bem, com bastante energia, pode haver certa vantagem. "Se o foco estiver um pouco acelerado, isso contribui para estudar, agilizar trabalhos pendentes, mas é preciso cuidado para não atravessar uma linha vermelha em busca de se atingir sempre os melhores resultados", afirma Porto. Continuar sendo workaholic (pessoa viciada em trabalho) após os 60 anos não é bom, por exemplo, pois a partir dessa idade a insônia naturalmente aumenta e o ritmo puxado só a piora.


Como frear os pensamentos Para desacelerar a mente é preciso compreender antes e com suporte médico o que se passa com ela. Após feita uma investigação e concluído o diagnóstico, entram os tratamentos, específicos para a fonte do problema. Transtornos requerem psicoterapia, acompanhamento profissional e intervenção medicamentosa, a depender da intensidade e recorrência dos sintomas. Quadros menos graves podem se resolver com adesão de novos hábitos e exercícios.


Nesse processo, vale separar poucos minutos por dia para meditar, fazer o que gosta, prestar atenção em cada tarefa que realiza, mesmo as que parecem não ter grande importância, como mastigar, respirar, caminhar. "Ao final do dia, deixe de lado celular, computador e filmes com muita ação e priorize leituras e programações leves", sugere Marina Vasconcellos, psicóloga pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Ela explica que embora as telas distraiam, também transmitem um combo de informações que deixam o cérebro agitado.


Some a essas iniciativas também fazer uma coisa de cada vez e, se a lista for muito grande, intercale com atividades que não demandem muito raciocínio e que seriam realizadas de todo jeito, como regar as plantas, tirar o lixo para fora, lavar os pratos. Quando conversar com alguém, evite falar o tempo todo e escute mais o outro. Isso ajuda a se manter no presente, assim como atividades físicas que exigem concentração nos movimentos do corpo. A ioga tem muitas sequências e posturas, além de técnicas de respiração e equilíbrio.

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