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Prisão Amorosa

Publicado na Revista Bem-estar, 14.04.13


Ser ciumento é uma coisa. Sentir ciúme é outra. Entenda as diferenças e qual comportamento é mais nocivo para sua relação.


O ciúme é uma emoção que gera controvérsias quando se discute se ele é saudável ou não para uma relação e para quem o sente. Na verdade, sentir ciúme pelo menos alguma vez na vida pode ser inevitável, seja por algum ente familiar, amigo ou pessoa a quem se ama, e acredite: temos crises de ciúme até nos primeiros meses de vida.


A psicóloga Sybil Hart, especialista em desenvolvimento humano, professora na Texas Tech University, comprovou isso por meio de pesquisas voltadas especificamente para descobrir as origens do surgimento do ciúme. Ela constatou durante um estudo com bebês de seis meses que o ciúme foi observado nos pequenos, que o expressaram com caretas quando perceberam as mães dando atenção para bonecas e não a eles. Esse incômodo e desagrado causou surpresa, pois o ciúme apenas era percebido em crianças maiores.


Crescer com ciúme, desenvolvendo-o como sentimento, no entanto, não é nada bom. Uma pessoa ciumenta faz mal para si mesma e a quem convive com ela, pois suas características de insegurança e desconfiança criam relações estruturadas na base do controle, o que só tem o caminho da deterioração dos laços.


Há, então, quem possa se questionar: “Ciúme como sentimento? Como assim?”. A questão é que sentir ciúme é uma coisa, ser ciumento é outra, pois o primeiro é classificado como emoção (algo instantâneo), e o segundo, como sentimento (algo contínuo). E ambos oferecem contribuições bem diferentes para suas relações, independentemente se amorosa ou não.


O ciúme é uma emoção muito comum presente no ser humano e no mundo animal, afirma a psicanalista Priscila Gasparini, de São Paulo. “Há registro de situações de crises de ciúme desde os tempos bíblicos, e não se limita apenas aos humanos. Entre os animais, observamos tendências ciumentas em chimpanzés e elefantes.”


Quando moderado e fruto da emoção, o ciúme é criado por situações pontuais e passageiras que podem ser desde uma roupa mais ousada a uma olhada curiosa para o lado. Esse é o lado positivo do ciúme, porque ele simplesmente pode estimular o zelo pelo parceiro, confirmando para si mesmo o quanto gosta daquela pessoa e tem medo de perdê-la.


A psicóloga paulistana Marina Vasconcellos, especialista em psicodrama terapêutico, ressalta que pode ser gerado um ciúme considerado saudável também. “Quando há uma situação que incomoda momentaneamente, pode até aumentar a aproximação e deixar a relação aquecida, porque demonstra uma preocupação”, explica.


Existem casais que até desejam que os parceiros tenham um pouco de ciúme para que sintam presente uma chama acessa no relacionamento, um cuidado a mais. A falta da demonstração pode deixar alguns na dúvida da existência do amor e valorização própria, mas embora isso até venha a ser verdade em um ou outro relacionamento, muitas vezes somente significa a segurança e autoestima intactos do parceiro sem ciúme.


Estado de alerta A pessoa ciumenta não tem crises esporádicas, mas vive em alerta, desconfiada, alterada e procurando (e esperando) ser enganada ou abandonada. O ciúme patológico deixa a pessoa agressiva, insegura e a mantém com baixa autoestima, com comportamentos exagerados e reprovados.


Entre as atitudes mais comuns, a psicóloga Marina Vasconcelos cita a curiosidade em checar as redes sociais, exigir a senha de e-mail para ficar vasculhando diariamente, ligar para amigos para confirmar a informação dada pelo parceiro, entre outras. “O problema é quando tem sempre essas atitudes e, mesmo quando não tem razão, cria motivo. Ela age assim porque não se considera boa o suficiente para manter um relacionamento e acredita que sempre há ameaças contra seu relacionamento”, explica.


As ansiedades e os pensamentos obsessivos podem ter como origem traumas vividos na família ou de pessoas próximas, como traições e mentiras. Esse histórico negativo provoca a insegurança, impossibilitando o ciumento de confiar em alguém.


“Como é desconfiado e inseguro, o ciumento persegue o parceiro o tempo todo com a intenção de controlá-lo”, diz a psicanalista Priscila Gasparini. Por isso, ele precisa de tratamento à base de antidepressivo e terapia. “Existem casos que em um mês há uma grande mudança, oferecendo melhoras para a pessoa e seu relacionamento”, acrescenta a psicóloga Marina.


A necessidade de tratamento surge porque o ser ciumento acaba exagerando e aumentando suas ações desproporcionais à realidade. A pessoa tomada pelo ciúme de forma contínua não consegue se controlar, está sempre tensa e preocupada, transforma-se em outra pessoa, porque vive na dúvida, sem nenhuma paz.


Ciúmes diferentes

Homens e mulheres manifestam seu ciúme pelo mesmo motivo: insegurança, insatisfação, desvalorização e baixa autoestima. As motivações é que são diferentes.

Mulheres têm a tendência a mostrar ciúme quando o parceiro sai com os amigos e, principalmente, quando desvia o olhar ao ver outra mulher. A psicanalista Priscila Gasparini acrescenta ainda que a mulher também tem crises de ciúme quando o parceiro valoriza demais o trabalho (o que a faz se sentir em segundo plano) e quando resolve se arrumar melhor.


Os homens, por outro lado, ficam incomodados quando suas parceiras têm amigos homens – ainda mais se são bem-sucedidos –, são independentes, deixando-os inseguros, e a presença da família tira a atenção dela para ele. O quesito vestuário é o mais comum, em especial, quando os homens veem que suas parceiras estão vestidas de forma atraente, o que chamará a atenção de outros homens.


Essas situações são pontuais e podem gerar aquela pontinha de ciúme ou mesmo uma crise, marcada pelas emoções mais afloradas. “O importante é que ambos tenham sempre o bom senso para lidar com o ciúme, para que não interfira na relação. Isso porque, se ele se torna doentio e sem controle, é necessário procurar um profissional para iniciar um tratamento”, destaca a psicanalista.

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