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  • Marina Vasconcellos

Será que você está exagerando nas broncas?

Publicado no Alagoas 24 Horas em 13/03/2014



É muito difícil encontrar alguém que nunca tenha levado ou dado uma bronca ao longo da vida. Aquela advertência no momento em que algo inadequado ou errado é feito é uma ferramenta de educação dos pais desde que o mundo é mundo. Mas, com todas as mudanças sociais e todos os avanços nos relacionamentos familiares das últimas décadas, vale refletir sobre o assunto. Será que a bronca educa? Há um limite para a bronca?


A psicóloga Maria Alice Fontes, doutora em saúde mental pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretora da Clínica Plenamente, é contra a prática: “A bronca não educa. Ela pode conseguir uma resposta imediata da criança para um acontecimento, mas não é interiorizada, não entra no processo de educação, que é contínuo, de longo prazo”.


Ela reconhece que todos os pais acabam dando uma bronca mais forte nos filhos de vez em quando, o que não considera uma boa solução. “O ideal é sempre parar para conversar, ensinar um caminho de causas e consequências para a criança. Até os seis anos, ela é muito autocentrada e recebe uma bronca com muita intensidade. Dessa idade em diante, já dá para conversar mais. Da pré-adolescência para a frente, as broncas não resolvem de jeito nenhum e só servem para despertar o desejo por confronto”, diz.


Já a psicóloga e terapeuta familiar e de casal Marina Vasconcellos, especializada em psicodrama terapêutico pelo Instituto Sedes Sapientiae, vê a situação de uma maneira um pouco diferente. “Se os pais mantiverem um tom de voz equilibrado, sem xingamentos ou ofensas, e focarem na atitude errada, e não na criança, a bronca educa, sim. É dizer ‘O que você fez é muito feio’, e não ‘Você é muito feio’. É importante lembrar disso”, defende.


Assim como Maria Alice, Marina vê no diálogo a melhor forma de lidar com os erros dos pequenos, mas considera que a realidade não permite essa pausa todas as vezes. “Algumas atitudes das crianças pegam os adultos de surpresa, nem sempre dá tempo de os pais conversarem com elas sobre o que acabou de acontecer”, afirma.


Os limites da bronca

Concordando ou não com seu lado educativo, conclui-se, portanto, que as broncas são inevitáveis. Por isso, é essencial que os pais estejam atentos aos limites que devem respeitar ao repreender os filhos. “Os adultos precisam ter autoridade sem ser agressivos, tanto verbal quanto fisicamente. Se as crianças são respeitadas, retribuem com respeito”, explica Marina.


Nesse ponto, Maria Alice concorda: “O caminho é ser muito firme e coerente, falar com consistência, respeito e carinho. É possível ser firme e carinhoso. Quando os pais faltam com o respeito ou diminuem os filhos, a bronca vira um instrumento de punição, não de educação”.


E como perceber se os limites estão sendo excedidos na hora das broncas? “É difícil desenhar um limite, cabe aos pais terem bom senso”, opina Marina. “Mas, mesmo que eles não tenham, chega uma hora em que o próprio filho percebe e reclama. Ou mesmo alguém de fora, normalmente um parente ou um amigo, dá um toque. Quando isso acontece, é hora de parar, pensar e rever o que tem que ser mudado – o tom, o palavreado”, complementa.


Broncas exageradas têm péssimas consequências

Não é só no presente que os adultos devem pensar quando censuram uma atitude da criança; há que se considerar que, como tudo, o que for falado e o tom empregado terão consequências. “Uma bronca mal dada pode levar o filho a ficar com raiva e se distanciar dos pais”, adverte Marina. “Ele também pode decidir transferir a agressividade que recebe em casa para as pessoas de convívio externo. Vai xingar os amiguinhos, gritar com eles. A criança replica no mundo o que vivencia no núcleo familiar”.


Maria Alice acrescenta que “exageros nas broncas podem resultar medo, baixa autoestima, ansiedade e até sintomas psicossomáticos – a criança fica doente sem explicação, surgem resfriados, dores de barriga e alergias, por exemplo”.


Momentos em que a bronca deve ser evitada

Tudo que foi explanado até aqui pelas psicólogas é levando em consideração situações normais, de convívio entre pais e filhos no dia a dia. Mas há alguns momentos excepcionais, em que medidas diferentes do que já foi dito devem ser tomadas.

Se a criança estiver descontrolada, gritando e sendo malcriada, o melhor é esquecer diálogo e broncas. “Nada adiantará. Ela tem que ser parada. É a hora de mandá-la para o quarto para se acalmar. Mais uma vez, os pais devem prestar atenção à forma como falam. O ideal é algo na linha ‘Não saia do seu quarto enquanto não conseguir conversar’, e não ‘Vá para o seu quarto de castigo”, orienta Maria Alice.


Caso a malcriação aconteça em um espaço público (como um shopping) ou em uma festa, Marina recomenda que os pais repreendam o filho rapidamente, para mostrar que o comportamento não é aceito, e guardem a bronca e a conversa para depois. “Dar uma bronca em uma ocasião dessas é constrangedor para os outros e humilhante para a criança. Não é necessário expô-la assim e gerar um clima ruim para todos. Retomar o assunto depois é a melhor saída”, finaliza.

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