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  • Marina Vasconcellos

Separações e brigas – quem mais sofre nisso tudo?

Publicado no Minha Saúde Online em 03/04/2014



Venho aqui insistir num tema que já abordei, mas cuja recorrência em casos que sou testemunha me chama a atenção: quando as brigas dos pais numa separação adquirem intensidade tal a ponto de esquecerem o cuidado que devem ter com os filhos, grandes atingidos na história toda.


Imagine a seguinte situação: um homem trai a esposa após quase 20 anos de casamento, é descoberto em sua traição e resolve separar-se. Justifica seu ato dizendo que a esposa já não o atraía mais por estar desleixada, acima do peso, e encontra alguém mais jovem e bonita. Envolve-se com ela, com quem vive uma paixão e explosão sexual, tentando recuperar os anos de insatisfação nessa área.


A esposa, mesmo sabendo de tudo, lhe oferece uma chance de retomar a relação, passando por cima das mágoas e humilhações, em nome de tudo o que construíram nos anos de união – incluindo dois filhos adolescentes. Fariam uma terapia de casal e tentariam entender e modificar o que não estava bom até então. Ele é irredutível e não aceita, dizendo estar certo do que quer para si, e afirmando que o tempo deles já acabou. Não a ama mais.


Porém, com o passar do tempo percebe que os ganhos com esse novo relacionamento são muito menores que as perdas, e cai em si, passando a valorizar cada aspecto da esposa que abriu mão, sentindo saudades da vida que levavam, dos momentos em família, das viagens de férias onde se divertiam, do aconchego do lar ao lado dos filhos... Tenta reconquistá-la, mas descobre que ela, após sofrer bastante e precisar tratar-se de uma depressão que a envolveu nos meses que se seguiram ao divórcio, já não está mais disponível, e seguiu a vida: está acompanhada de um novo amor.


Aí é que o caldo começa a entornar. Vem o ciúme, o inconformismo com a escolha errada que fez, o arrependimento por não ter agido de outra forma lá atrás, a vontade de voltar no tempo para resgatar o relacionamento quando ele ainda tinha chances de se modificar e ser salvo. Agora é tarde.


Dependendo da maturidade e caráter de cada um, aqui corre-se o risco de colocar tudo a perder. Alguns começam a atacar o novo companheiro da ex mulher, acusando-o de coisas infundadas, desqualificando-o perante os filhos, provocando situações onde estes se veem numa encruzilhada: percebem que o parceiro da mãe é de boa índole, gostam dele, e o principal: veem o quanto a mãe está feliz e recuperada do trauma passado, mas sentem-se pressionados pelo pai que faz chantagem emocional e tenta a todo custo desvirtuar a imagem dele, falando mal,  dificultando ao máximo que a mãe seja feliz. Afinal, se ele não o é, porque ela haveria de ser?


O jogo é invertido e o pai projeta no novo companheiro toda a sua frustração, seu inconformismo, e o culpa por sua “amada” não lhe querer mais.


Coloquei aqui um exemplo que pode ser aplicado tanto a homens quanto mulheres, claro. Uma mulher quando sente que perdeu seu homem para outra, por mais que tenha sido dela a escolha, passa por momentos de ciúmes e raiva, chegando em alguns casos a atitudes de fúria e completa inadequação. E muitas vezes na frente dos filhos, que descobrem um lado ainda não revelado de sua mãe que lhe parecia tão tranquila e controlada.


Lidar com a frustração da perda não é fácil. Admitir que errou e não há mais como consertar determinada situação que você próprio causou, por escolhas erradas que fez na vida, requer maturidade e desenvolvimento emocional à altura. Reconhecer a responsabilidade por seus atos e assumir as consequências que eles trazem, sem projetar no outro o que é de sua autoria, é sinal de crescimento e auto conhecimento.


Todos nós estamos sujeitos a errar, mas temos que reconhecer que o outro também tem seu limite de aceitação, sua capacidade de perdão e o direito de seguir em frente e ser feliz.

Se você se encontra nessa situação, o melhor a fazer é esforçar-se para acertar numa próxima união, e em nome do amor que descobriu sentir pelo outro, deixe-o ir e ser feliz. Isso o libertará para também ir em busca de sua felicidade novamente.


E os filhos? Devem ser preservados sempre, nunca sendo colocados entre os pais como “moeda de troca”, como “informantes” da vida de cada um, e não merecem escutar os pais ofendendo um ao outro, desrespeitando-se e desqualificando os novos companheiros que tenham entrado em suas vidas. Quando tudo isso é respeitado a separação, por mais dolorosa que seja, pode não ser tão traumática e de fácil assimilação para os filhos. Tudo vai depender de como os pais lidam com os fatos.

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