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  • Marina Vasconcellos

Quando o pai perde o emprego

Retornar à rotina do lar pode ser um grande desafio, mas essa é a hora de aproveitar o tempo livre ao lado da família


Publicado no IG em 14/07/2011




Um dia ele entra pela porta, cabisbaixo, sem o sorriso de costume. Quando um pai perde o emprego, o primeiro desafio é explicar para a família. “A sensação é de impotência, não sabia muito bem o que falar”, relata Márcio Siggia, 55, pai de três filhos. Quando foi demitido de uma multinacional de tecnologia, em meados dos anos 90, Márcio teve que, aos poucos, se adaptar à nova situação. “Quem sentiu mais foi meu filho do meio, que tinha 15 anos na época. Como ele estudava em uma escola particular, todos os amigos saíam sempre, mas ele não tinha mais grana pra acompanhar o ritmo”, explica.


Depois de um ímpeto inicial na busca por qualquer emprego, ele chegou à conclusão de que era melhor não ter pressa. “Meu cargo era muito bom onde eu trabalhava antes, não ia começar tudo do zero de novo”, diz. Enquanto uma oportunidade não surgia, o administrador aproveitou para passar mais tempo com o filho caçula, que tinha três anos na época. “Foi bom porque deu pra pegar um pouco dessa fase legal dele”, conta.


Segundo a psicóloga Marina Vasconsellos, este é um movimento favorável. “É legal aproveitar a oportunidade para fazer coisas que nunca pôde fazer como levar o filho na escola e ajudar com a lição de casa”. Marina explica que o principal problema que pode surgir é quando a pessoa não aceita a própria situação. “Tem pai que perde o emprego, mas não assume, continua saindo e voltando no mesmo horário de sempre, com medo da reação dos familiares”.


Depois de alguns meses na espera, Márcio foi contratado por outra grande empresa. “No fim acabou sendo bom, consegui um trabalho melhor e também pude descansar um pouco, mesmo que à força”.


O paulistano Luiz Castro, 68, tinha um escritório de consultoria imobiliária. Depois de alguns anos prósperos, em 1975 uma crise no mercado imobiliário levou a empresa à falência. Com quatro filhos pequenos, o empresário logo teve que mudar de vida para conseguir sustentar a família. “Tínhamos um padrão muito bom, tivemos que mudar diversas situações no nosso cotidiano”, conta.


Segundo Luiz, alguns luxos tiveram que ser substituídos. “Tínhamos dois carros, tive que vender um e passar a usar ônibus, vendi também uma casa de praia e um terreno no qual pretendia construir alguma coisa”. Não demorou muito para que os filhos também entrassem na nova política econômica domiciliar. “Em vez de comprar quatro presentes, passei a comprar um que desse para todos, como uma piscina inflável”. Antes matriculadas em colégios particulares, as crianças passaram a frequentar o sistema público de ensino. “As mensalidades atrasavam todo mês, não tinha mais como justificar aquilo”, explica.


Apesar das dificuldades, a psicóloga explica que, em geral, os jovens lidam bem com a situação. “Essa é uma situação cada vez mais comum hoje em dia, acontece com qualquer um, e eles (os filhos) sabem disso”. O que não pode haver é uma inversão de valores. “O papel do pai continua o mesmo, nada muda. Ele não pode perder o respeito dentro de casa”.


Inquieto com a situação, Luiz procurou diversas alternativas para garantir uma renda. “Nunca fiquei parado. Abri uma lanchonete, uma mercearia, uma autopeças, uma casa de sucos…”. Depois de diversas tentativas frustradas, a situação aos poucos foi se estabilizando quando o empreendedor passou a administrar uma adega em São José dos Campos, nos anos 90. Passado o susto, o pai se orgulha de ver os filhos com futuro promissor. “Hoje todos meus filhos estão bem encaminhados, todos fizeram faculdade”.


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