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  • Marina Vasconcellos

Falta de comunicação é o maior inimigo dos relacionamentos

Ausência de diálogo ou má interpretação dos fatos pode causar um abismo no casamento e até levar à separação


Publicado no Portal Chris Flores - R7 em 11/03/2014



Em uma sociedade cada vez mais cercada por tecnologia, na qual estamos reféns de aplicativos e redes sociais, a falta de comunicação é cada vez maior entre as pessoas, especialmente nos relacionamentos amorosos.


Só para ter uma ideia, o número de divórcios tem crescido nos últimos anos. No Estado de São Paulo, os cartórios de notas lavraram 17.569 divórcios em 2013, um aumento de 6,13% em relação a 2012, quando foram realizados 16.554 atos, de acordo com dados do Colégio Notarial do Brasil – Seção São Paulo (CNB-SP).


Mas o que pode levar um casamento à ruína, a ponto de uma separação?

Marina Vasconcellos, terapeuta familiar e de casais pela UNIFESP, atende muitas famílias com problemas conjugais, que buscam a terapia para melhorar ou salvar o casamento.


A especialista conta que os pacientes apresentam diversas queixas, como “sexualidade insatisfatória; traição; problemas financeiros; divergência na educação dos filhos; incapacidade de conversarem sobre assuntos mais delicados; doença de um deles não tratada, em especial psiquiátrica, impossibilitando uma boa relação entre o casal e os filhos; ciúme patológico; síndrome do ninho vazio (quando os filhos saem de casa e o casal não sabe como lidar com o vazio e a relação deles já está desgastada), entre outras. Porém, todas essas queixas poderiam ser resolvidas se a comunicação existisse e fluísse de forma saudável entre eles”.


Apesar dos problemas terem origens diversas, eles são causados em geral, pela falta de comunicação entre os parceiros, como esclarece Marina a seguir:


A falta de comunicação pode levar a uma crise no relacionamento?

As principais queixas dos casais que chegam ao consultório para atendimento podem ser agrupadas em três vieses da comunicação: falta, falha ou distorção dela. Coisas são ditas e interpretadas de maneira distorcida, de acordo com o filtro interno de quem ouve aquilo, ou do estado de espírito do momento, e não são devidamente checadas em sua veracidade.

Dessa forma, os casais vão construindo relações pautadas em suposições errôneas, acumulando hipóteses falsas a respeito das intenções do outro, que com o tempo acabam por levar a inúmeros conflitos e o consequente desgaste da relação – conflitos estes que aparecem nas mais diversas áreas do relacionamento.


De que maneira a terapia de casais pode ajudar?

Frequentemente vejo casais que, ao expor cada um sua visão de um fato, demonstram um entendimento completamente equivocado sobre o que cada um fala ou pensa, ou mesmo sente.


Ali no contexto terapêutico aprendem a ouvir-se mutuamente sem que o filtro pessoal interponha-se entre eles, percebendo a importância de uma boa comunicação para a saúde da relação.

Fala-se muito em rotina. Até que ponto ela afeta o casamento?

O tempo é um fator que pode ser cruel numa relação. A paixão não resiste a ele, e naturalmente o amor em que se transforma é mais tranquilo, pautado na cumplicidade, parceria, crescimento pessoal e conjunto, formação de uma família, cuidado com os filhos, dedicação ao trabalho...


A rotina toma conta do casal e na grande maioria dos casos o leva ao comodismo, onde ele se esquece de investir na relação a dois antes tão cuidada e valorizada. É preciso resgatar isso para que os casamentos não caiam no marasmo após alguns anos, transformando-se em relações sem vida, sem prazer, onde se abre mão daquilo que gosta em função dos compromissos e tarefas diárias...


Como tentar reverter a situação?

É importante que o casal reserve um tempo para si, sem os filhos, onde possam reviver o papel de amantes, namorar e criar um clima romântico entre eles. A intimidade vai diminuindo em função das obrigações com os filhos, do tempo escasso, do trabalho em excesso, do estresse.


Mas é fundamental que seja alimentada de tempos em tempos. Coisas simples podem acender o brilho do amor entre os dois, como assistir a um filme mais “apimentado” depois que as crianças forem para a cama; estabelecer um dia para deixar os filhos na casa de avós ou com babá e saírem para fazer algo fora da rotina – cinema, teatro, comer fora, sair com amigos, dançar ou mesmo namorar em casa tomando um vinho sem a presença das crianças -, viajar alguns dias por ano apenas o casal, para reavivar a intimidade; fazer alguma surpresa sem data específica (mandar flores, por exemplo, com um cartão carinhoso ou provocante).


Qual é o erro mais comum que os casais cometem?

Muitos casais se desfazem por não conseguirem expor suas insatisfações ao longo do tempo e os problemas vão se acumulando. Ao chegarem para procurar ajuda – quando o fazem -, já é tarde demais: a mágoa acumulada, o rancor e a falta de respeito impedem que se resgate qualquer amor que um dia tenha existido entre eles.


Relacionar-se é difícil. Saber lidar com as diferenças e respeitá-las; aceitar o outro como ele é, sem querer mudá-lo para se adequar ao que você espera de um parceiro; aprender a preservar a própria individualidade dentro de uma relação a dois, procurando o próprio desenvolvimento e prazer, além do investimento no casal, demanda uma energia, disposição e maturidade que nem todos têm.


Assim, muitos acham mais fácil separar-se quando algo não vai bem ao invés de investir num tratamento, tentar olhar para si e perceber sua parte de responsabilidade nos conflitos, ouvir o outro e deparar-se com coisas suas que devem ser mudadas, por mais que você ache que não.


Aí está a “liquidez” das relações: não se investe o suficiente para crescer e dar frutos, e diante de uma crise (o que é normal acontecer em algum momento em qualquer do casamento) já se desiste, procura-se outra pessoa que não lhe exija tanto investimento no próprio desenvolvimento emocional...


Parece que as pessoas se separam por qualquer coisa hoje em dia.

Como hoje em dia o divórcio é aceito pela sociedade, já não expondo a pessoa a tamanho preconceito e discriminação como antigamente, ficou mais fácil deixar um casamento infeliz para traz. Por um lado é bom, pois as pessoas podem dar-se o direito de ser feliz e sair de uma relação que já não lhe faz mais sentido.


Por outro, corre-se o risco de desistir antes de dar tudo de si para salvar o casamento, que em muitos casos poderia ser resgatado caso contasse com a ajuda de uma terapia de casal.

Todo relacionamento é uma troca, e exige algumas renúncias por parte de ambos. Quando se escolhe estar casado, a vida de solteiro é deixada de lado e transformada em uma vida a dois, onde na maioria das vezes farão coisas em comum, mas sem deixar de lado também algumas atividades individuais que garantem a realização do parceiro.


Isso pode parecer simples, mas para alguns casais transforma-se em motivo de grandes discórdias, levando à separação por não conseguirem encontrar uma equação saudável para isso. Novamente, parece mais fácil separar-se e ter a liberdade de volta do que investir no amadurecimento da relação. E aí está um dos segredos de uma relação saudável: sentir-se livre mesmo estando casado. É uma escolha estar ao lado do parceiro, e não uma obrigação.

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