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Essa tal “síndrome de abstinência”... Afinal, o que tem a ver com você?

Publicado no portal IG, 17.07.13

Outro dia estava assistindo a um programa onde o Dr. Dráuzio Varella falava sobre a dificuldade sentida pelas pessoas que tentam parar de fumar de passar pelos primeiros dias, resistindo bravamente ao apelo do vício que tenta insistentemente fazer com que a pessoa desista de sua empreitada. Isso nada mais é que a tão temida “síndrome de abstinência”, ou seja, a falta física (dos componentes do cigarro no organismo, como nicotina e alcatrão) e psicológica (Socorro, quero fumar! Preciso fumar! Gosto e tenho vontade de fumar!) o cigarro.


Passada essa primeira fase, onde o indivíduo consegue dominar sua vontade quase irresistível de dar uma tragada, tudo tende a melhorar e ficar sob controle. Porém, um ex-fumante será sempre considerado um “ex-fumante”, ou seja, nunca mais poderá dar uma tragada por correr sério risco de retorno imediato ao vício. Assim também acontece com drogados, alcoólatras, viciados em sexo, enfim, todos terão que permanecer com a consciência para o resto de suas vidas de que possuem uma tendência ao vício, à compulsão, e devem manter-se longe de situações que os remetam à vontade de voltar atrás em sua decisão.


Essa síndrome também se aplica aos relacionamentos amorosos. Há situações que acometem principalmente as mulheres, onde sabemos que não é o melhor para nós “racionalmente” falando, mas o “emocional” teima em negar a razão e seguir tentando.



Vamos a exemplos práticos: mulheres que permanecem em relações com maridos agressivos, que chegam ao ponto de agressões físicas, e não conseguem sair de perto deles. Muitas já tentaram sair, mas aí vem a tal “síndrome de abstinência” onde parece dificílimo ficar longe dele, a tristeza é grande confundindo-se com uma possível depressão, as lágrimas são muitas, lembranças de coisas boas não param de vir à mente, a vontade de ouvir sua voz fica irresistível e por que não apenas um telefonema? Pronto, é o suficiente para tudo voltar ao que era antes, retomando uma relação que certamente continuará tão doentia quanto antes.


Outras apaixonam-se por homens que não querem compromisso, muitos deles deixando isso bem claro desde o início da relação, mas permanecem tentando fazê-lo mudar de ideia, presas na ilusão de que ele só não quis compromisso até o momento porque ainda não havia se apaixonado, e quem sabe agora tudo muda. Passa por várias situações onde é testada em sua persistência e paciência, convence-se de que realmente ele é assim e não mudará, termina a relação achando que será forte o suficiente para esquecê-lo e dedicar-se a alguém que a ame de verdade, até que... por que não só um telefonema para matar a saudade? Pronto, a sedução daquela voz que a recebe tão receptivamente é o suficiente para deixar de lado toda a convicção da decisão, e dar mais uma chance àquele romance que não a satisfazia, mas que em vários momentos lhe trazia grandes alegrias!


Outras ainda ligam-se a alcoólatras que passam a vida prometendo que irão parar de beber, aquela bebedeira foi “a última”, não acontecerá novamente. Recusam-se a se tratar, acham que têm o controle sobre a bebida, não precisam de terapia ou de grupo de apoio. Após mais um dos intermináveis eventos desagradáveis, ela toma a decisão de deixá-lo, permanece longe algum tempo, corroendo-se com a culpa de deixá-lo sozinho, sem seu apoio, e acreditando que se estivesse ao seu lado poderia ajudá-lo a controlar sua bebida, ou fazer com que se tratasse. Assim, em meio ao seu sofrimento (porque ainda o ama), não resiste ao ser procurada por ele que, sóbrio, consegue convencê-la a voltar atrás, recebendo-o de volta, dando continuidade à dinâmica de co-dependência.


O ponto que quero destacar é o seguinte: sempre que cortamos uma relação sem que o sentimento envolvido tenha se acabado, porque nos convencemos racionalmente de que aquilo não é o melhor para nós, fica muito difícil sustentar a decisão em especial logo após tê-la tomado. É natural que fiquemos pensando no que era bom, nos momentos realmente satisfatórios que tivemos ao lado da pessoa amada, nos planos que fazíamos quando estávamos juntos. O ruim fica momentaneamente apagado, é “negado” por nossa consciência para que nos convençamos de que estávamos ali por algo que valia a pena, fazia sentido, nos alimentava.


Mas nem sempre “escolhemos” corretamente com o coração, e o preço a ser pago muitas vezes é altíssimo por permanecermos nessas relações! Assim, temos que respirar fundo e aprender a suportar a “síndrome da abstinência” do amado, aquela vontade quase irresistível de ouvir sua voz, de vê-lo só mais uma vez, porque nosso coração falará mais alto que a razão, é aí que mora o perigo.

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