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Crer em lei da atração ou horóscopo ajuda ou prejudica saúde mental?

Publicado no portal UOL/Viver Bem, 15.06. 22 Por: Marcelo Testoni



No começo dos anos 2000, a saúde mental da produtora de TV australiana Rhonda Byrne estava à beira do colapso. Seu pai havia falecido, o trabalho se sobrepunha à sua vida social e ela, com mais de 50 anos, à época, supunha não ter mais futuro. Tudo parecia dar errado, até que um dia descobriu um "segredo" que mudou sua vida. "O Segredo" virou filme, série de livros, faturou US$ 300 milhões mundo à fora e consagrou Byrne uma escritora famosa.


Para Byrne e adeptos de movimentos religiosos alternativos, o tal segredo é a "lei da atração", que consiste em pedir e crer para receber. Um assunto que se relaciona com o universo e com tudo o que há nele, como as estrelas, o zodíaco. Tanto que o termo "Nova Era" (misticismo) remete à Era de Aquário, de interesse da astrologia, que igualmente atrai multidões em busca de orientações, previsões para o futuro, benefícios.


Na internet e nas redes sociais, ocultismo e misticismo aparecem no topo dos conteúdos mais pesquisados dos últimos anos. Há uma tendência entre as novas gerações de querer encarar a espiritualidade de outra maneira, menos presa a dogma e mais focada na evolução da consciência humana. Mas o que pensam psicólogos e psiquiatras? São caminhos, frutos da revolução contracultural, iniciada com os hippies, que de fato ajudam, ou mais atrapalham?


A ciência não reconhece, mas...

Astrologia, numerologia, tarologia, nenhuma dessas crenças e práticas são aceitas como ciência, que argumenta carecerem de confiabilidade, provas racionais. No entanto, não quer dizer que não possam contribuir como ferramentas de reflexão, autoconhecimento e aperfeiçoamento.


Com frequência, têm sido produzidos trabalhos acadêmicos a respeito disso e que falam até em "astrologia psicologizada", dedicada a estudar características e potencialidades individuais.


Para a "Nova Era", por exemplo, o esoterismo diz respeito a tudo o que está no interior de nós, oculto, mas passível de ser desvelado e acessado mediante interesse, dedicação a estudos, vivências e práticas.


Mas para Yuri Busin, psicólogo pós-graduado pela PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e mestre e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), há uma grande diferença entre pensar positivo e agir de forma positiva.


"Pensamentos positivos predispõem as pessoas a realizarem ações positivas, o que é extremamente necessário, pois nada acontece se a gente não faz nada", explica Busin. Sob a perspectiva das religiões alternativas, equivale a despertar o Deus íntimo para acessar uma realidade mais profunda e assim se encorajar para rever comportamentos e alcançar mudanças e equilíbrio.


Nem tudo compete aos astros

O entendimento sobre si e os outros com base no zodíaco, até então algo restrito, passou a ser divulgado mais abertamente e para um público mais amplo após os anos 1960 e 1970, com os novaeristas (adeptos da "Nova Era"). Foi assim que as pessoas adquiriram o interesse por ler horóscopos em jornal e a astrologia se propagou, hoje sendo requisitada até para elaborar mapas astrais para empresas, ou interpretar acontecimentos sociais para programas de TV.


"As coisas muitas vezes batem, mas não dá para acreditar, por exemplo, que existam somente 12 tipos de pessoas no mundo, de acordo com os 12 signos. Ou achar que vai dar tudo certo, ou errado, com determinada pessoa porque ela é de um signo tal e você de outro, por se comportarem de maneiras iguais ou diferentes", adverte Marina Vasconcellos, terapeuta pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e especialista pelo Instituto Sedes Sapientiae.


Você pode ser de um signo, ter tendência a se comportar de acordo com as características que ele representa, mas, como complementa Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador (BA), nada é determinado. "A personalidade depende de muitos outros fatores, como ambiente em que se vive, genética, criação. Agora, crenças que alimentam padrões comportamentais podem levar seguidores a crerem que eles façam parte de sua constituição."


Atenção ao tratamento correto

Quando as coisas estão dando errado, há quem também se consulte com um guru e culpe os astros, como Mercúrio, por estar retrógrado. Mas tenha em mente que, quando se trata de algum transtorno mental, somente profissionais da saúde podem diagnosticar e fazer o tratamento correto.


Quem se encontra vulnerável, com ansiedade, depressão, precisa tomar muito cuidado com fórmulas milagrosas, configuradas como curandeirismo, previsto em lei como crime. "É preciso conversar com pessoas próximas, expor seus problemas, pedir opiniões e perceber se o suporte está sendo oferecido por quem realmente parece interessado em ajudar e não obter vantagens", aponta Busin, reforçando que em caso de dúvidas não é indicado ir adiante.


Instituições e mentores que se dizem dedicados com o próximo e preocupados com seu bem-estar, autoestima, paz interior, satisfação, completude, podem, junto com os especialistas citados, ser fundamentais na recuperação, no desenvolvimento de habilidades sociais, percepção de sentido existencial. Porém, não indicam tratamentos anticientíficos, ou que envolvam a aplicação de substâncias, toques, encontros desassistidos e a portas fechadas.

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